quarta-feira, 2 de dezembro de 2020

Exílio

A Casa da Infância é eterno exercício de memória, passei minha primeira infância lá, meu pé na literatura e meu gosto musical floresceu naqueles dois prédios da avenida Nazareth, não existe jeito de esquecer os momentos que fizeram de mim o que sou.

Não tem como esquecer das freiras mas, meus agradecimentos vão às outras pessoas, as moças.
Essas eram quem, de fato, cuidavam dos guris, o cara mais fraco da memória, se forçar bem, vai lembrar delas nos dando banho, quando a gente nem sabia se lavar.
Umas eram o mau humor em pessoa, outras tinham a calma de um anjo, feito a Rúbia.
Torço para que o leitor tenha encontrado na infância uma pessoa do naipe da Rúbia.
Era o ano de 1973, na salinha escura que ficava embaixo do palco e se entrava pela porta que ficava na frente da seringueira da quadra e ela levou a vitrolinha com seus discos de vinil.
Antes de executar a faixa, ela nos lembrou que o país vivia uma ditadura, Taiguara era exilado e censurado no Brasil.
Contou que, olhando as ruas de Londres coberta pela névoa ele sentia saudades de Porto Alegre em todas as manhãs, com o olhar de pena perdido num ponto invisível, fez a pergunta retórica:
_Vocês fazem ideia de como deve ser triste, olhar um cenário e se lembrar de outro???
Ah, de vez em quando, ele tinha a sorte de assistir Lennon a cantar bem cedinho.
O disco rodou na vitrolinha vermelha e a turma do Sagrado Coração se maravilhou.